CPI dos Atos Golpistas interroga condenados por ataque a bomba em Brasília

A CPI dos Atos Golpistas interrogou nesta quinta (29) Alan Diego dos Santos e George Washington de Oliveira Sousa, condenados por planejarem ataque a bomba no aeroporto de Brasília, na véspera do Natal em 2022. Ambos estiveram acampados no QG do Exército.


O primeiro ouvido foi Alan Diego, que assumiu logo no início do depoimento ter chegado no acampamento golpista no dia 12 de novembro. Fábio Felix, membro titular da Comissão Parlamentar de Inquérito, questionou qual era a motivação principal das pessoas que lá estavam, morando em barracas desde a eleição do presidente Lula.

“Eles pediam intervenção militar e federal, outros diziam que era pra quebrar tudo”, afirmou o depoente. Sobre o dia 12 de dezembro, Alan Diego confirmou ter participado ativamente, e que antes de seguir para a depredação, “estava no QG do Exército com outros manifestantes”.

Em relação à tentativa de atentado no aeroporto de Brasília, Alan Diego ressaltou que a bomba foi feita por George Washington e que o conheceu também no acampamento golpista. Alan teria, então, pedido a um outro colega que estava no QG, Wellington Macedo, uma carona para levar o artefato no local combinado, alegando que o motorista “não tinha conhecimento do plano de ataque”.

Embora tenha se desvencilhado de todas as perguntas que comprometem o ex-presidente, Alan Diego assumiu que “existia uma grande expectativa de que havia de fato ocorrido fraude nas eleições de 2022” e que esse sentimento motivou a organização de acampamentos como aquele em frente ao QG do Exército.

Indignado com a postura debochada do depoente, Fábio Felix reagiu. “É gravíssima a situação na qual o senhor está envolvido, uma tentativa de colocar uma bomba numa área central de Brasília. É gravíssimo e o senhor tem uma postura absolutamente debochada e desrespeitosa com essa CPI, com deputados e deputadas, e acho que isso tem a ver com as convicções políticas que o senhor tem. O senhor tem que respeitar a casa legislativa e o povo brasileiro”, bradou o deputado.



O parlamentar acrescentou que todo o processo de tentativa de golpe se deu porque Bolsonaro não aceitou ser derrotado nas urnas. “Eu fui eleito, senhor, pela urna eletrônica. Já perdi eleição e ganhei eleição pela urna eletrônica. Você conhece a pessoa pela dignidade que ela tem pra ganhar, e conhece mais ainda pela dignidade que ela tem pra perder. O ex -presidente Bolsonaro não teve a dignidade de perder as eleições, porque saiu pelas portas do fundo o Palácio do Planalto e estimulou um monte de gente nesse país a atacar os Três Poderes da República em uma tentativa de golpe de estado. A extrema direita tem produzido pessoas como o senhor, que tem a covardia de atentar contra a vida das pessoas e contra a democracia”, finalizou.

George Washington

“Em qual data o senhor veio para o Distrito Federal?” foi a primeira pergunta de Fábio Felix ao condenado por confeccionar artefato explosivo e planejar ataque terrorista no dia 24 de dezembro do ano passado, no aeroporto de Brasília.

George Washington respondeu que chegou dia 12 de novembro à capital, mesmo dia em que Alan Diego também disse ter chegado ao acampamento. O depoente afirmou que veio para passar o fim do ano em Goiânia, mesmo não tendo amigos, família e nenhuma festa específica programada. Confrontado por Fábio Felix, ele assumiu que veio para “ver a manifestação de bolsonaristas concentrada em frente ao Quartel General”.

Fábio fez uma série de perguntas em que a resposta se limitou a “vou permanecer calado, senhor”. George Washington não esclareceu, por exemplo, sobre qual a motivação que o fazia frequentar o acampamento golpista.

Sobre dúvidas em relação à confiabilidade do sistema eleitoral, das urnas e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o inquirido também não respondeu e emendou na sequência: “a minha visão é o seguinte: quando o político é eleito, no meu ponto de vista, é permissão de Deus. Então, se houve aquela situação toda no QG agimos de forma errada”.

“Então, o senhor acha que extrapolou?”, insistiu o parlamentar e George Washington novamente disse que permaneceria em silêncio.

Fábio leu, ainda, um trecho do depoimento de George Washington em que ele afirma que ao “conversar com policiais e bombeiros, ele percebeu que apoiavam Bolsonaro é que seria, então, decretada a intervenção federal”. Mais uma vez ele não quis comentar sobre.

Ausência de bolsonaristas à oitiva

Fábio Felix fez questão de registrar a ausência de todos os parlamentares do PL, mesmo partido do ex-presidente Bolsonaro. “Houve esforço retórico de alguns colegas parlamentares de expressar um afastamento entre o acampamento do QG do Exército e os atos violentos, muitos deles nem compareceram hoje para as oitivas. Não pode ser considerado coincidência que nenhum representante do Partido Liberal compareceu a esta sessão para questionar os dois acusados de plantar uma bomba na área central de Brasília, colocando a vida da população risco.

Fábio completou. “Não é brincadeira. Isso aqui não é sobre direita ou esquerda, é sobre a vida da população do Distrito Federal. E sabe por que não compareceram? Eu ouso uma resposta: porque eles querem reforçar a narrativa que as atos antidemocráticos foram algo pontual e distante do acampamento bolsonarista, mas os depoimentos de Alan Diego e George Washington provam exatamente o contrário”, ressaltou o parlamentar.