Conheça Lucci, mulher Trans que trabalha no Gabinete 24
A assistente social tem a tarefa de ajudar a formular políticas públicas de valorização da diversidade e de promoção da igualdade.
“A gente precisa construir uma sociedade em que todas as identidades sejam respeitadas para que pessoas Trans não sejam assassinadas e nem cometam suicídio”, alerta a paulista de 26 anos. Lucci teve uma infância e uma adolescência marcadas pela não-aceitação. O acolhimento familiar, tão necessário para o desenvolvimento psíquico, não foi uma realidade na vida da jovem, que revela que o seu maior sonho é construir uma família “onde o amor e o respeito sejam a base do convívio”.
O Brasil é o país que mais mata pessoas transgêneras no mundo, segundo dados da ONG Transgender Europe (TGEu). A violência, o estigma e o rechaço social levam a comunidade Trans a viver à margem. Lucci, por diversas vezes, esteve neste lugar: sem apoio, sem oportunidades e sem ajuda clínica. Demorou a entender que era uma mulher e teve muitos altos e baixos durante o processo de identificação de gênero. A famosa frase de Simone Beauvoir caiu como uma epifania: “se ninguém nasce mulher, mas se torna, então eu entendi que eu também podia ser mulher, já que era assim que eu me sentia”, revela.
A assistente social trabalhou como garçonete para custear a transição de gênero. “Os remédios menos danosos são muito caros, eu tive muita dificuldade financeira para ter acesso ao tratamento adequado”, conta. A falta de dinheiro só não foi mais grave que a perseguição que Lucci sofreu. Foram muitas mensagens violentas nas redes sociais e ataques de pessoas que diziam que ela não podia ser mulher. “Foi aí que eu entendi que não era só uma questão estética e de bem-estar. A adequação da minha aparência à minha identidade enquanto mulher também me traria segurança para transitar sem ser agredida”.
Uma nova oportunidade para Lucci
Convidada pelo deputado Distrital Fábio Felix para o mandato, Lucci agora junta dinheiro para a cirurgia que vai por fim ao longo processo de sofrimento e de desconforto com o corpo. “Hoje eu sou feliz, tenho um relacionamento estável e quero ajudar mais pessoas como eu a se aceitarem e a serem aceitas”, afirma emocionada.
A “passabilidade” – conceito que mensura o grau de aceitação social da aparência de uma pessoa Trans – é uma questão de saúde e de segurança públicas. Pessoas transgêneras dependem disso para levar uma vida segura. No Brasil, o tratamento que a garante é muito restrito. Por isso, Lucci Laporta quer contribuir para a expansão do acesso e para a criação de uma rede de proteção e de acolhimento. “O gabinete 24 será esse espaço de formulação de programas e de políticas que correspondam às necessidades das comunidades LGBT e Trans. Como diz o Fábio, seremos uma ‘Central da Dignidade Humana’ e eu estou muito feliz em fazer parte disso”, finaliza.