O nosso amor existe e é revolucionário!
Em meados de 1948 uma campanha criada por João Dória, pai do atual governador de São Paulo, já dizia: “Não se esqueçam: amor com amor se paga”. Na iniciativa que marca a criação do dia dos namorados no Brasil, o publicitário deixa bem claro o objetivo de mercantilizar sentimentos e afetos.
Muitas décadas se passaram e o dia 12 de junho, que também é véspera do dia de Santo Antônio, se consolidou no imaginário popular como a data em que casais apaixonados celebram seus relacionamentos com troca de presentes. Restaurantes, cinemas, parques, motéis e todos os espaços de consumo, entretenimento e lazer lucram com essa necessidade quase imposta de celebrar-se o amor. Mas, apesar dos avanços dos últimos anos, infelizmente muitos casais LGBT+ ainda não conseguem comemorar o dia da mesma forma que os outros casais.
Apesar do mercado estimular o consumo de forma irrestrita sem ressalvas expressas de identidade de gênero e orientação sexual, ainda são poucas as empresas que, na prática, veiculam ou criam propagandas temáticas que mostram casais homoafetivos ou compostos por pessoas travestis ou transgêneras.
Querem o nosso dinheiro, mas a grande maioria do empresariado não está disposta a se comprometerem com nossa luta por visibilidade. Não querem causar o incômodo em parte do público conservador que ainda vê o preconceito se aflorar quando nossa felicidade e nossa liberdade são mostrados como qualquer outro casal héterosexual e cisgênero.
Por que devemos frequentar um restaurante em que não nos sentimos seguros para beijar nossos namorados ou namoradas, por exemplo?
É importante ter um olhar crítico sob a lógica consumista que está associada a essa data, mas sem esquecer que estamos inseridos dentro de uma sociedade capitalista. A revolução não virá do dia para a noite e temos que usar todas as ferramentas possíveis na busca por uma sociedade que não nos discrimine por quem somos ou amamos.
Não podemos perder de vista que ainda vivemos num país em que a educação pública não é de qualidade, que enfrentamos resistência para conseguir garantir que os currículos escolares ensinem sobre igualdade e diversidade de gênero e sexualidade. Grande parte da população não tem o hábito da leitura, acabam sendo educados pelas mais diferentes mídias e a propaganda e anúncios publicitários podem ser grandes aliados na disputa pelo imaginário das pessoas em torno das nossas identidades, amores e sexualidade.
Vamos criticar a coisificação do afeto, mas enquanto não pudermos mudar a estrutura global que impõe essa lógica, temos que exigir que nossos rostos e nossos corpos sejam incluídos nas campanhas e comerciais, fora e dentro da tv. Representatividade importa!
Nesse contexto, façamos uso do o bom e velho boicote e valorizemos somente quem procura meios para colocar em destaque nossas existências de forma real e completa. Beije seu namorado, namorada ou namorade publicamente (mas sem furar o isolamento)!