Entidades repudiam aprovação do ensino domiciliar
NOTA PÚBLICA CONTRÁRIA À EDUCAÇÃO DOMICILIAR APROVADA EM 1º TURNO PELA CLDF
A sociedade civil, representantes de diversas organizações e comunidades do Distrito Federal em defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes e demais instituições signatárias vêm, por meio desta, expressar repúdio a aprovação na Câmara Legislativa, em primeiro turno, de projeto de lei que estabelece o ensino domiciliar (homeschooling) no Distrito Federal.
Aprovado no último dia 17 de novembro (2020), o texto é um substitutivo da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aos projetos de lei nº 356/2019, do deputado João Cardoso (Avante), nº 1.167/2020, dos deputados Júlia Lucy (Novo), Delmasso (Republicanos) e Eduardo Pedrosa (PTC), e nº 1.268/2020, do Poder Executivo.
Em primeiro lugar ressaltamos a inconstitucionalidade da aprovação, pois não é da competência do Distrito Federal – mas da Esfera Federal – legislar sobre a pauta da educação. Além disso, o art. 205 da Constituição Federal estabelece que a educação, direito todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Nessa esteira, a inconstitucionalidade permanece na seletividade da educação, sendo a educação domiciliar contrária à universalidade da política pública, a que se refere o texto constitucional.
É importante registrar que a criança e o adolescente são sujeitos de direitos e não propriedade da família. Devem ter reconhecido o seu direito à socialização, à convivência comunitária e a ser parte de um mundo inclusivo, aprendendo a lidar com as diferenças. A sua participação e vivência na comunidade escolar são imprescindíveis para a efetiva inclusão social e formação como cidadãos e cidadãs.
A política da educação visa justamente assegurar os direitos fundamentais previstos no art. 227 da Constituição Federal, que institui a doutrina da proteção legal, regulamentada posteriormente pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB.
O Brasil está entre os 20 países que mais violenta crianças e adolescentes em âmbito doméstico. De acordo com os dados do Disque 100 (2019), 73% dos casos de violência contra crianças e adolescentes acontecem na casa da vítima ou do suspeito, sendo que 64% dos agressores são do convívio familiar da criança ou do adolescente (mãe, pai, padrasto e tios). Em relação à violência sexual, 87% dos agressores são homens e destes 40% são os pais ou padrastos das vítimas.
Sabe-se que a escola é o espaço principal de denúncias de tais violações. Assim, acreditamos que o aumento das violências sexual, física e psicológica, além da negligência e explorações de toda ordem serão ainda mais invisibilizadas pelo ensino domiciliar.
Em relação à exploração do trabalho infantil, sabe-se que um grande percentual dessa exploração, principalmente em suas piores formas, acontece no trabalho doméstico, em seus próprios domicílios ou nos de terceiros; assim como a exploração de crianças e adolescentes nas ruas trabalhando com ou para familiares. A presença na escola é uma das mais efetivas formas de prevenção à exploração do trabalho de crianças e adolescentes, que tem como consequências nefastas a manutenção do ciclo de pobreza, além de prejuízos para o seu desenvolvimento físico, biológico e psicossocial.
A escola, além de espaço pedagógico, educativo, de socialização, de inclusão e desenvolvimento de crianças e adolescentes, é também espaço de proteção. Manter seres humanos em uma fase peculiar de desenvolvimento apenas dentro de suas casas é uma afronta aos direitos fundamentais postos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
A desigualdade no ensino é outra grande preocupação, pois o Brasil possui alto nível de analfabetismo entre os adultos e a modalidade do ensino domiciliar pode agravar esse problema, uma vez que a grande maioria das famílias brasileiras não terá condições socioeconômicas e psicossociais para a oferta dessa modalidade de ensino, mas poderão requerer esse “direito”, se assim a CLDF entender, para submeter crianças e adolescentes a situações acima explicitadas.
Entendemos que cabe ao Estado investir mais recursos públicos para garantir a melhoria das condições das escolas públicas, de modo a atender, de forma plena e universal o direito à educação, assegurando a proteção das crianças e adolescentes, bem como a promoção de seus direitos.
Por fim, é ultrajante não haver amplo debate junto a comunidade do Distrito Federal, além do desrespeito a manifestação de crianças e adolescentes sobre matéria que trata de seus direitos, garantindo o princípio constitucional e das leis correlatas, como a lei Distrital Nº 4.751/2012, que garantem a participação da comunidade local e escolar nas decisões referentes à educação, efetivando assim a gestão democrática da educação pública.
Repudiamos os votos favoráveis e nos colocamos em defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes pela manutenção da convivência comunitária, social e inclusiva em espaço escolar ofertado pelo Estado.
Brasília, 18 de Setembro de 2020.
Confira o arquivo em PDF e a leitura feita pelo deputado Fábio Felix durante a sessão remota
ASSINAM ESTA NOTA
- Fórum de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Adolescente trabalho do Distrito Federal – FPETI/DF
- Instituto Trabalho Decente
- Coordenadoria de Combate à Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente no DF/MPT
- Movimento Negro Unificado
- Fórum de Mulheres DFE
- Instituto Berço da Cidadania
- Coletivo PsiDF
- AMOPETI – Adolescentes Mobilizados pela Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil
- Aldeias Infantis SOS Brasil
- Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal- SINPROEP
- MST
- CECRIA – Centro de Referencia, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes
- CRESS DF – Conselho Regional de Serviço Social
- Rede Emancipa Movimento Social de Educação Popular
- Associação Nacional de Educação Católica – ANEC
- CUT DF – Central Única das Trabalhadoras e Trabalhadores do DF
- Comitê do Distrito Federal da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, com apoio da Coordenação Geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação
- Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil (MIEIB)
- Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (SINASEFE) – Brasília
- Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil
- Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação – DF
- Fórum Colegiado Nacional de Conselheiros Tutelares do DF – FCNCT
- INESC
- Movimento de Meninos e Meninas de Rua DF
- Comitê Nacional de Enfrentamento a Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes
- Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente do Distrito Federal – CEDECA DF
- Mães Pela Diversidade
- Associação Internacional Maylê Sara Kalí-AMSK/Brasil
- Sindicato dos Professores do DF – SINPRO/DF
- Fórum Nacional de Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes – FNDCA
- CNTE – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação
- ANDI Comunicação e Direitos
- Distrito Drag
- Fórum Comunitário e de Entidades do Gama – FCom/Gama
- ULTRA
- Coletivo da Cidade
- DCE Honestinas Guimarães – UnB
- Associação Brasileira de Autismo, Comportamento e Intervenção (ABRACI)
- Movimento Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis do DF (MNCR/DF)
- CRP DF – Conselho Regional de Psicologia do DF
- Coletivo de Mulheres com Deficiência DF
- Fórum de Lutas LGBTQI +D DFE
- Movimento Pro Saúde Mental DF
- Central dos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil
- Ponto de Cultura Ludocriarte
- Secretaria de Mulheres do PSB DF
- Central de Movimentos Populares – CMP
- Setorial de Mulheres do PSOL DF
- Conselho Tutelar Brasília I
- Marcha Mundial das Mulheres DF
- Levante Popular da Juventude
- Instituto Espírito de Luz – IEL
- Secretaria de Mulheres do PT DF
- MECE – Movimento de Educação e Cultura da Estrutural
- Instituto inclusão
- D&M Consultoria e Assessoria Social e
- AMORA – Movimento Popular por Moradia do DF e entorno
- Movimento Down
- Eu me Protejo
- SINTIBREF DF
- Vila da Cidadania
- Rede ECPAT Brasil
- Casa de Ismael
- Fórum de Educação Infantil do Distrito Federal- FEIDF
- Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Yves de Roussan
- Instituto do Carinho
- Centro de Educação Paulo Freire de Ceilândia
- Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas- FENATRAD
- Associação Mãos Amigas – AMAS
- Associação Nairim
- Movimento Popular Por Uma Ceilandia Melhor
- Congregação São João Batista – Instituto Promocional Madalena Caputo.
- Elo Mulheres REDE DF
- Obras Sociais do Centro Espírita Irmão Áureo
- Trafem – Coletiva Trafeminista
- Fórum de Aprendizagem do DF
- Centro de Formação Popular da Juventude
- Visão Mundial
- Aconchego – Grupo de Apoio á Convivência Familiar e Comunitária
- Casa Azul
- PETECA – Programa de Educação contra a Exploração do Trabalho da Criança do Adolescente
- CONAPETI – Comitê Nacional de Adolescentes pelo Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil
- MOVECE – Associação Movimento Vida, Ética, Cidadania e Espiritualidade
- Associação Nacional dos Centros de Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes (ANCED)
- Casa da Paternidade
- Núcleo de Estudos pra Infância e Juventude NEIJ/UnB
- Instituto dos Direitos da Criança e do Adolescente (INDICA)
- Rede Não Bata, Eduque
- UBM- União Brasileira de Mulheres
- Projeto de extensão Ciências Sociais nas Escolas do Depto. de Sociologia da UnB
- Frente Parlamentar Mista de Promoção e Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente no Congresso Nacional
- Comissão Justiça e Paz CNBB
- Teia Solidária
- FÓRUM DCA DF