Dois anos sem Marielle Franco
Março de 2018 parece distante, mas há apenas dois anos a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram covardemente executados no centro da cidade do Rio de Janeiro.
A noite daquele 14 de Março foi muito dolorosa. Aqui em Brasília estávamos em uma importante reunião de mobilização, nos organizando para o ano eleitoral e para fazer o PSOL crescer no DF e em todo o Brasil. Quando saímos do encontro, soube da notícia e fiquei completamente devastado. A minha geração não tinha vivido, até então, esse nível de violência brutal na política brasileira. O que tinha de pior na extrema direita ainda não havia ascendido na política nacional. Assassinar uma parlamentar para que ela fosse silenciada parecia fora da nossa realidade.
Por 363 dias ficamos sem saber quem matou Marielle e Anderson. Os acusados estão presos aguardando o julgamento, mas há 730 dias continuamos nos fazendo a pergunta mais importante: quem mandou matá-la e por quê?
Os desdobramentos das investigações revelaram que aqueles que tentaram matar as ideias de Marielle fazem parte de grupos políticos que não toleram uma mulher negra no poder, nascida e criada na favela, que foi mãe adolescente, que ama outra mulher, que denunciava a política de segurança que produz violência sobre a pobreza e sobre a negritude. Milícias estão envolvidas no crime. Milícias com ligações estreitas com a família que hoje ocupa o Palácio do Planalto. A continuidade da nossa fragilidade da nossa democracia depende urgentemente dessas respostas.
Marielle incomodava e sabia disso. A vida é dura, ela gostava de lembrar. Seu sorriso largo, sua altivez alegre e sua força calorosa ensinaram a mim e a todos que não é preciso ser triste para ser militante. Neste 14 de Março, é dia de recarregar as nossas energias para continuar resistindo ao crescimento da extrema-direita. Mais do que nunca vamos gritar para o mundo que o lugar das mulheres, das pessoas negras, LGBTs, da classe trabalhadora, dos povos indígenas, das pessoas com deficiência é nos espaços de poder.
A semente de Marielle sempre nos fortalecerá. Como ela nos ensinou: eu sou porque nós
somos. Seguiremos exigindo justiça todos os dias!