A cidade larga, de poucas pessoas nas ruas, completa mais um aniversário durante a pandemia. Datas comemorativas que certamente não serão esquecidas pelo peso vivenciado durante estes tempos. A cidade projetada para as pessoas não consegue esconder suas desigualdades. Nas muitas “brasílias”, onde as sombras dos prédios da burocracia não dão guarida, a população do DF teve de se reinventar.

Ainda somos uma das cidades mais verdes do país, com o céu azul mais bonito, mas um sentimento de insatisfação tomou lugar. Não dá para sermos meros admiradores de paisagens enquanto fazemos parte de uma das capitais mais desiguais do país. Não conseguimos mais ser referência de política sem nos importarmos com as recorrentes atrocidades que acontecem aqui.

Nestes 61 anos, tivemos muitas lutas e hoje fincamos nossas bandeiras neste novo marco histórico de Brasília. Poucas semanas antes do aniversário, um fato nos tocou profundamente: vimos o governador Ibaneis Rocha mandar despejar centenas de famílias no momento mais grave da pandemia até aqui. Com o maior número de infecções, hospitalizações e mortes causadas pelo novo coronavírus.

Para quem é esta Brasília? Tenta negar sua essência, a cidade que cresceu pela ocupação territorial da força de trabalho de milhares que vieram construí-la e enchê-la de vida. Assim como ocorreu nas décadas posteriores à construção, hoje,  governantes tentam expulsar do centro da capital quem não é rico ou não tem posses. A resposta do governo é mandar o trator contra famílias mais pobres. O primeiro passo da tragédia é sempre a desumanização: tiram a casa, a comida e todos os direitos para naturalizar a cultura de violência contra a população.

Não toleramos mais isso! Neste aniversário de 61 anos de Brasília, queremos que entendam de uma vez por todas que esta cidade sempre foi do povo. Fomos colocados à margem, mas hoje ocupamos o centro para mostrar que Brasília está em constante construção.