Por: Gustavo Belisário

Uma grande área coberta pela fumaça que vai do Norte ao Sul do Brasil. Esse é o retrato que as imagens de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostraram no último sábado, 19. Os satélites mostram o que as imagens que circulam na televisão e nas redes sociais já evidenciam há algumas semanas: O Brasil está sob chamas. E quem serão os responsáveis por esse drama humanitário e ambiental que assola o país?

Dois milhões e meio de hectares do Pantanal foram queimados durante o mês de setembro. Isso é o equivalente a mais de dez vezes a área da cidade de São Paulo. Calcula-se que 20% de todo o Pantanal já sofreu com as queimadas esse ano. E não é só o Pantanal que sofreu com as chamas. Os incêndios na Amazônia foram ainda maiores esse ano do que no ano passado. O Cerrado registrou mais de 12 mil focos de queimadas somente em setembro.

É preciso não titubear: o assunto é grave. São milhares de espécies de animais que estão sofrendo com as queimadas. Estima-se que quase metade das Terras Indígenas da região do Pantanal enfrentaram queimadas. As cenas de uma casa no Xingu rodeada de fogo são desoladoras. Tantas vidas em risco levaram à bancada do PSOL na Câmara Federal pedir para que o governo decrete Estado de Calamidade e envie a Força Nacional para o Pantanal.

Mas o desgoverno Bolsonaro e a condução da política ambiental de Salles não poderiam ser mais desastrosos. Buscam de todas as formas minimizar a gravidade dos fatos e negar as evidências do crescimento dos incêndios sob esse governo. Atacam diariamente o IBAMA e sua capacidade de fiscalização dos crimes ambientais: o órgão responsável pela fiscalização reduziu em 40% as multas decorrentes de crimes ambientais em comparação com o ano passado. O governo faz questão de fazer vista grossa aos garimpeiros e fazendeiros que estão provocando esses incêndios criminosos por terem sido apoiadores durante as eleições.

A tragédia anunciada da condução ambiental do governo Bolsonaro estava desenhada desde as eleições. Durante a campanha de 2018, Bolsonaro falou que não demarcaria nenhum centímetro de terra indígena. Prometeu ainda acabar com o “ativismo ecológico xiita” e com os órgãos de fiscalização como IBAMA e ICMBio. Não era novidade para ninguém que Bolsonaro queria desmontar toda a política ambiental do governo federal.

Ontem (21), durante seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, Bolsonaro mentiu compulsivamente para camuflar a responsabilidade desse governo com a destruição das florestas e dos biomas brasileiros. Quem assistiu ao ministro Salles falando em “passar a boiada” na política ambiental durante a pandemia não tem nenhuma dúvida de que essa preocupação do governo com o meio ambiente não passa de fachada. Chegaram a culpar os indígenas pelas queimadas de proporções continentais que acometem o Brasil desde julho.

Essa ânsia de dar uma fachada de proteção ambiental ao governo não é a toa. O comércio do Brasil com outros países está sob ameaça por conta da destruição dos biomas. A União Europeia já ameaça romper o acordo de livre comércio com o Mercosul por conta da irresponsabilidade do governo federal de cumprir cláusulas básicas de proteção. A situação está tão descontrolada que setores do agronegócio pedem para que o governo e o ministério comandado por Salles pegue mais leve na política de devastação ambiental.

Onde há ataques, há resistência. Seguimos com Sônia Guajajara denunciando os crimes do governo contra os povos indígenas e contra o meio ambiente. Seguimos com os jovens pelo clima do mundo que seguem dando lições sobre a necessidade de deixarmos um planeta habitável para as próximas gerações. A destruição dos biomas e a crise climática só serão revertidos com essa mobilização internacional. Junto das juventudes e povos originários derrotaremos Bolsonaro e sua política de destruição.